Se há algo que Dark Souls consegue realizar com maestria, além de nos deixar frustrados com chefes de extrema dificuldade, é nos levar à reflexão. A série desenvolvida pela FromSoftware vai além de ser um simples jogo focado em espadas, criaturas e fogueiras – trata-se de uma jornada filosófica disfarçada de um RPG de ação. Um dos temas mais impactantes que a série explora, de forma quase implacável, é o existencialismo.
Dark Souls nos insere em um ambiente sombrio e devastado, onde tudo parece prestes a desmoronar. Não há um caminho evidente a seguir, não temos explicações simplificadas e, mais importante, nossas ações não garantem resultados. Isso faz você lembrar de algo? Com certeza, essa sensação angustiante está relacionada com as ideias de pensadores como Jean-Paul Sartre e Albert Camus. É justamente sobre isso que iremos discutir: como Dark Souls nos desafia a encontrar significado em meio ao desespero.
A Liberdade de Escolha e o Peso da Existência
Se você já jogou Dark Souls, perceberá que não há um destino predeterminado. Embora existam finais distintos, o jogo não leva você diretamente a um deles. Você tem a liberdade de decidir se vai manter a Chama acesa ou permitir que ela se apague. Pode optar por auxiliar determinados NPCs ou deixá-los à sua própria sorte. Ao final, a questão que persiste é: o que realmente importa?
Na filosofia existencialista, a noção de que “a existência precede a essência” implica que não possuímos um propósito previamente estabelecido. Não há um destino claro, nem uma missão divina que defina exatamente o que devemos fazer. Em Dark Souls, isso se reflete em como somos introduzidos ao mundo do jogo sem um objetivo maior além da sobrevivência. O jogador é desafiado a determinar o que considera importante e como irá enfrentar essa realidade.
Jean-Paul Sartre afirmava que somos condenados à liberdade, e Dark Souls nos lança nesse abismo de escolha. Temos a opção de prosseguir, encarar desafios inimagináveis ou desistir. O jogo não nos força a avançar – ele apenas nos apresenta um mundo desesperançoso e questiona: o que você fará a respeito?
Dark Souls: O Absurdo e a Rebelião Contra o Vazio
Outro ponto forte do existencialismo presente em Dark Souls é o conceito do “absurdo”, defendido por Albert Camus. Segundo ele, o universo não tem um sentido inerente. Procuramos respostas, mas o mundo não se preocupa em nos dar nenhuma. Isso fica evidente no jogo, onde encontramos personagens que perderam toda a esperança ou enlouqueceram tentando encontrar um propósito.
Mas Camus também falava sobre a “revolta” contra esse absurdo. E é exatamente isso que fazemos em Dark Souls. O jogo não nos dá respostas, mas seguimos em frente mesmo assim. Lutamos contra chefes impossíveis, morremos inúmeras vezes, nos frustramos… e continuamos tentando. Não porque há uma grande recompensa ou porque o jogo nos obriga, mas porque escolhemos lutar.
Dark Souls nos ensina que, no fim das contas, o sentido da nossa jornada é aquele que escolhemos dar a ela. Assim como na vida, não existe um grande propósito universal nos dizendo qual é o nosso destino. Mas podemos criar nosso próprio caminho, superar os desafios e encontrar significado na nossa própria persistência.
No final, talvez Dark Souls seja muito mais do que um jogo difícil. Talvez seja uma metáfora brutal da própria existência. E, assim como na vida, só há uma regra: nunca pare de tentar.